Autoconhecimento e Profissão

Decifra-me ou devoro-te, ou melhor - conhece-te ou perecerás!

No último recesso (nos poucos dias de julho) ao arrumar minha escrivaninha e, organizar minha correspondência, localizei alguns convites de formaturas. Lembrei-me que, tão logo começasse o novo período letivo, iniciariam os preparativos para uma nova temporada de colações de grau que chega um pouco antes da primavera, mas que se assemelha a ela. Sabe-se que a primavera apresenta-se como a estação do ano em que a natureza renova-se e se reveste de esperança. Para muitos formandos, junto com a primavera, começa a temporada de busca do primeiro emprego. Jovens recém-formados, no país inteiro, começam a maratona de envio de currículos aos pretensos e diferentes postos de trabalho.

Não quero entrar aqui em dados estatísticos de quantos o conseguirão. Tampouco abordar a questão daqueles que se enveredam por funções e empregos que não são, necessariamente, compatíveis com a graduação que concluíram.

No entanto, quero falar do tão sonhado sucesso profissional que, na maioria das vezes, senão todas, está atrelado ao bom desempenho da profissão. Tenho acreditado cada vez mais que, para alguém obter tal sucesso, existe um fator fundamental - o autoconhecimento.. Questão inclusive já colocada em remotos tempos.
Na antiga Grécia, a esfinge já nos dizia: decifra-me ou devoro-te. Qual o enigma que nos é apresentado? E a resposta: Conhece-te ou perecerás.

E o que é o autoconhecimento? Qual sua relação com o bom desempenho de uma profissão Comecemos pelos aspectos semânticos: - CONHECER é estabelecer relação do sujeito (que conhece) com o objeto (que será conhecido). Sem declinar os conceitos de sujeito e objeto, nessa questão do autoconhecimento, sujeito e objeto são um só. Sou eu o sujeito que, no caso, me faço objeto de conhecimento. Objetivamente? Subjetivamente? - BOM DESEMPENHO PROFISSIONAL, significa empenhar-se com zelo para dar conta de uma profissão. No sentido de professar uma crença nos procedimentos inerentes ao seu fazer profissional.

E até que ponto o desempenho profissional poderá ser beneficiado pelo autoconhecimento? Penso que o sucesso dá-se, a partir do momento em que nos damos conta das nossas reais possibilidades. Das nossas capacidades e de nossas fragilidades. Principalmente destas últimas. Acredito que seja a identificação dos próprios limites que nos permite envidar esforços na sua transposição. Ou na possível e harmoniosa convivência com esses limites, pela sua simples constatação. Não poucas vezes, nos deparamos com capacidades individuais potencializadas devido à identificação das próprias fragilidades. Ao serem percebidas, muitas vezes, nossas fragilidades podem ser minimizadas.

Porém, lamentavelmente, nos currículos escolares nem sempre são inseridos conteúdos que contribuem para o autoconhecimento, visto que não fazem parte da formação técnica. A necessidade fremente da formação especializada, impõe cargas horárias vultosas de conteúdos específicos. Em detrimento daqueles de formação geral que, quando contemplados, aparecem com o mínimo exigido por lei e, em muitos casos, nos dois últimos horários, na sexta-feira.

Mas, voltemos aos nossos formandos, agora já graduados. O que lhes será exigido? Qual de fato será seu diferencial? Formação técnica? Quantos a terão? Diploma legal? Certamente muitos também o terão. Basta uma rápida olhada ao redor para contabilizarmos a proliferação de variadas, e legais, possibilidades de se obter uma graduação. Inclusive de nossa própria casa, via Internet.

O que caberá, então, aos nossos graduados? Dizem os especialistas em mercado de trabalho que deverão buscar o diferencial. Diferencial para um mercado que se modifica na imensa velocidade com que são geradas novas informações. Se ontem, saber uma língua estrangeira era necessário, já há quem afirme que é recomendável ser trilingüe. O que fazer? Como dar conta de tantas exigências rapidamente modificadas?

Daí a minha proposta. Sem desconsiderar as exigências reais de mercado, comece pelo conhecimento de si. Associe à sua capacidade técnica, à sua competência atualizada, ao seu diploma, o empenho constante e disciplinado no autoconhecimento.

Crie oportunidades para se conhecer enquanto ser humano que se faz sujeito, no conceito mesmo de “aquele que pratica a ação”, ou seja, é dono de seus próprios atos. Para se identificar nas relações intersubjetivas que são estabelecidas no cotidiano e, nesse processo reconhecer, com a devida clareza, das já citadas capacidades e fragilidades. Que também estão presentes nos demais sujeitos dessa interação cotidiana a qual você se submete.

Reserve tempo e busque os meios para se descobrir, de fato como você é, com sua singularidade e suas reais possibilidades. Não se espante ao perceber que, gradualmente os seus horizontes podem ampliar-se e novas fronteiras surgirem. Acredite que o seu sucesso começará, sem dúvida alguma, no momento em que crer e praticar a máxima - Conhece-te a ti mesmo. Assuma, cotidianamente e tenazmente, esse compromisso consigo mesmo. O resto virá por acréscimo.

Clara Regina Agostini Oliveira 


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