
Para o especialista em processos internacionais de aprendizagem, Jorge Fiszer, essa suposta dificuldade de disseminação e assimilação do conhecimento pode ter suas raízes vinculadas aos processos utilizados nas escolas e nas universidades que os profissionais freqüentaram, antes de assumirem suas atividades nas organizações. Segundo ele, muitas pessoas foram apresentadas apenas a metodologias que estimulavam a “armazenagem” de uma enorme quantidade de dados e informações sem, permitirem que os indivíduos chegassem à assimilação do conhecimento. “As pessoas eram estimuladas apenas a decorar e não a pensar”, explica.
Jorge Fiszer possui uma trajetória profissional de quase 40 anos que incluem passagen por países como Espanha, Argentina, México, Brasil, Costa Rica, Uruguai, Paraguai, Venezuela, Chile, Bolívia e Equador. Em entrevista concedida ao RH.com.br, O especialista em processos de aprendizagem defende a utilização do Mapa Conceitual - , que segundo ele, é uma ferramenta que organiza e representa conhecimento. Baseado na teoria da aprendizagem significativa de David Ausubel, o Mapa Conceitual é uma representação gráfica em duas dimensões de um conjunto de conceitos construídos de tal forma que as relações entre eles sejam evidentes. Durante a entrevista, ele também se mostra um defensor da Gestão do Conhecimento nas empresas. Boa leitura!
RH.COM.BR - Na América do Sul, os processos de aprendizagem são semelhantes aos aplicados em outros países de outros continentes?
Jorge Fiszer - Embora pareça injusto falarmos sobre processos de aprendizagem na América do Sul, onde existem enormes diferenças entre os diversos países desse subcontinente, podemos afirmar que existe uma linha comum que é caracterizada pela ênfase dada aos conteúdos educacionais e que é acompanhada de uma indiferença muito significativa quanto aos procedimentos que permitem aprender melhor e mais rápido. É mais importante o "quê" do que o "como". Provavelmente, no futuro o verdadeiro papel das universidades e das escolas sul-americanas será ensinar a pensar e não apenas transmitirem conhecimentos de um mestre para um grupo de alunos. Hoje, observamos que a maioria dos estudantes apenas decora textos, ao invés de tentar compreendê-los.
RH - Por que os países sul-americanos têm tendências a importar processos de aprendizagem de outros continentes como o Europeu, por exemplo?
Jorge Fiszer - Provavelmente, isso ocorra por uma razão de tradição e de vários séculos de evolução evidenciados em favor do continente europeu. No entanto, é fundamental lembrarmos do destaque de trabalhos desenvolvidos por grandes homens que nasceram na América do Sul como, por exemplo, o brasileiro Paulo Freire, responsável por teorias associativas e construtivistas que foram criadas para serem aplicadas em um processo de ensino-aprendizagem . Cada vez mais também constatamos presenças mais destacadas de profissionais sul-americanos que atuam em equipes de pesquisa nos grandes centros mundiais.
RH – Quais as metodologias de aprendizagem mais usadas na América do Sul?
Jorge Fiszer - Devemos reconhecer que nos últimos 20 anos do século XX, a América do Sul mudou radicalmente as metodologias e as ferramentas de aprendizagem utilizadas em escolas e universidades. De uma educação tradicional - que tomava como base a acumulação de informações na memória e que consistira em apenas “armazenar” uma enorme quantidade de dados e informações sem, de fato, permitirem as pessoas chegarem à sabedoria, passamos para um interessante avanço em procura da elaboração individual e coletiva do conhecimento. Essa é uma mudança realmente radical.
RH – Essas metodologias têm atendido às necessidades das organizações sul-americanas?
Jorge Fiszer - Infelizmente, essas novas metodologias de aprendizagem ainda não chegaram às nossas organizações. São apenas instrumentos educacionais usados somente nas escolas e nas universidades. O nosso maior desafio atual é estimular as empresas, para que elas aceitem as vantagens da Gestão do Conhecimento, de acordo as novas técnicas de aprendizagem. Por exemplo, queremos mostrar o valor de se utilizar a ferramenta chamada Mapa Conceitual para todas as áreas da organização que necessitem compartilhar, produzir e transmitir conhecimentos.
RH – Quais as principais dificuldades que as empresas da América do Sul enfrentam diante dos processos de aprendizagem?
Jorge Fiszer - São muitas as dificuldades que encontramos, mas algumas são mais evidentes. Em primeiro lugar, podemos destacar que as pessoas não foram treinadas para pensar, mas sim para decorar. Esta é responsabilidade de um sistema educacional obsoleto que felizmente já está mudando. O fato é que ainda encontramos em algumas funções estratégicas das organizações profissionais formados antes da década de 90. O mais provável é que nas escolas e nas universidades que esses profissionais freqüentaram não existissem procedimentos de aprendizagem como o Mapa Conceitual. O grande desafio agora é atualizar esses profissionais. Se você pretende gerir uma organização inteligente, deve procurar colocar pessoas inteligentes em todos os níveis e departamentos da organização.
RH – O Brasil está acompanhando os processos de aprendizagem organizacional, presentes em outros países da América do Sul?
Jorge Fiszer - Vejo com muita satisfação que o Brasil está na vanguarda em relação aos outros países sul-americanos. Conheço bastante o Brasil, pois morei dez anos em São Paulo e tive a oportunidade de visitar outros 12 Estados brasileiros. Posso afirmar que, no Brasil, o nível de conhecimento sobre estratégias de aprendizagem é muito bom na área de Recursos Humanos. A questão, o desafio, agora, é integrar todos os setores das organizações em uma política geral de Gestão do Conhecimento com ferramentas modernas e eficazes como o Mapa Conceitual.
RH – O Sr. foca seus trabalhos de aprendizagem baseados no chamado Mapa Conceitual. Quais os objetivos desse processo específico e como o mesmo pode ser aplicado no dia-a-dia corporativo?
Jorge Fiszer - O Mapa Conceitual é uma ferramenta, não um conteúdo. Foi desenvolvida e apresentada por Joseph Novak e sua equipe, de acordo com as teorias de David Ausubel, e permite ordenar o raciocínio lógico, estimular o pensamento lateral, aumentar a criatividade do indivíduo e dividir informações e dados com outros participantes ou grupos numa organização. O princípio teórico do Mapa Conceitual é chamado de Aprendizagem Significativa. Este novo paradigma mudou os tradicionais sistemas de memorização irracional de definições, fórmulas, nomes, datas que eram utilizados por estudantes de universidades e escolas. Agora, sabemos que uma nova aprendizagem deve gerar uma nova sinapse no cérebro. O Mapa Conceitual é um caminho rápido e eficaz para produzir essa aprendizagem profunda, pois favorece a aprendizagem ativa, ou seja, a action learning.
RH – Em que situações o Mapa Conceitual deve ser utilizado?
Jorge Fiszer - O Mapa Conceitual pode ser utilizado em praticamente todas as situações de aprendizagem. Trata-se de uma ferramenta de análise e compreensão. Facilita, portanto, o processo de incorporação dos novos conhecimentos para a mente humana. Todos nós temos conhecimentos prévios que ajudam a entender as inovações. O Mapa Conceitual é um extraordinário estimulador desses conhecimentos, pois cria pontes cognitivas que permitem a entrada e a localização ordenada das novas idéias no cérebro.
RH – O Sr. é a favor do fortalecimento da Gestão do Conhecimento nos processos de aprendizagem. Qual a razão desse posicionamento?
Jorge Fiszer - Porque a Gestão do Conhecimento é uma estratégia transversal que inclui todos os setores e os níveis da organização. Já não podemos permitir que uma pessoa, um grupo ou mesmo um departamento possua uma informação crítica e que esta informação, por sua vez, não possa chegar a outros membros da organização, ou seja, ser compartilhada, O conhecimento adquirido em uma organização é parte do seu patrimônio e não é possível que apenas algumas pessoas possam ter acesso a esse conhecimento.
RH – A utilização da Gestão do Conhecimento tende a ser usada cada vez mais?
Jorge Fiszer - Era comum nas organizações que um gerente ou mesmo um diretor possuíssem informações, dados críticos e conhecimentos que lhes outorgavam poder. Era o chamado “poder da informação”. Hoje, sabemos que o conhecimento não deve estar em poucas mãos, mas sim disponível para todos os indivíduos autorizados. A inteligência financeira, as informações sobre o mercado, as novas tecnologias, dados importantes sobre clientes e fornecedores são conhecimentos que toda a organização deve dividir.
RH – A participação efetiva da área de RH é um fator decisivo para o sucesso de um processo de aprendizagem?
Jorge Fiszer - A área de Recursos Humanos é a única que pode agir com absoluta independência das linhas de processo. O foco da área de RH pode estar na melhora contínua dos profissionais, no aprimoramento da Gestão Cognitiva, nas técnicas mais modernas e eficazes para adquirir, dividir, compartilhar e transmitir os conhecimentos intra-organizaciona is. A responsabilidade é enorme, mas a área de RH é, talvez, o único setor da organização com condições suficientes para implementar um sistema de Gestão de Conhecimento com Mapas Conceituais.
1 comentários:
Muito bom, parabéns!!
Repliquei no nosso blog
http://gestaodoconhecimento.ning.com
Um beijo
Fernanda
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